Estrada Real – 8° Dia

Caxambu/Pouso Alto/Itanhandu/Passa Quatro

(Resumo)

Quando saí do hotel a cidade estava calma, com pouquíssimos carros na rua. Olhei o guia e após pedalar quase um quilômetro, descobri que estava indo para o lado errado. Achei o caminho certo e saí da cidade pedalando devagar por uma subida longa e difícil. O dia prometia! Tinha escolhido seguir pela estrada asfaltada e sabia que teria um longo trecho de serra alternando subidas e descidas. E mesmo sendo asfaltado, aquele trecho de estrada passava pelo Caminho Velho original da Estrada Real. Muitas rotas da Estrada Real foram aproveitadas quando as estradas de Minas Gerais começaram a ser asfaltadas. O início da estrada era por uma região muito bonita, com bastante mata. A estrada era cheia de curvas e com poucas subidas. Em muitos trechos não tinha acostamento e em outros tinha acostamento somente de um lado da estrada. Eu ia alternando os lados, sempre tomando cuidado ao atravessar de um lado para outro. Nas curvas geralmente não tinha acostamento e eu seguia pela contramão, de olho atento nos veículos que vinham de frente.

Quase no final de um novo trecho de subida, teve um momento em que tive que ir rapidamente para o acostamento, pois de frente vinha um caminhão em alta velocidade. Na pressa acabei batendo com o macaquinho numa canaleta da estrada e ele entortou e fez com que a corrente se soltasse e enroscasse nas catracas traseiras. Coloquei a bike de ponta cabeça ao lado da estrada e por quase uma hora tentei consertar o problema. Mas não consegui, e do jeito que travou a corrente eu não conseguia nem mesmo empurrar a bike, pois a roda travava. Com muito custo consegui tirar a roda e coloquei ela invertida, pois dessa forma não travava. Daí tive que empurrar a bicicleta pelo canto da estrada. Empurrei por cerca de um quilômetro de subida e felizmente cheguei em um trecho longo de descida. Subi na bike e embalava ela com o pé no asfalto. Depois era só seguir no embalo e com as mãos no freio. Em alguns trechos de subida e de reta, eu descia e empurrava. Foram dez quilômetros dessa forma, até que cheguei na cidade de Pouso Alto. Dei sorte de a bike ter quebrado perto de um longo trecho de descida. A estrada atravessava a cidade e segui por ela até que parei em um posto de gasolina para pedir informações. Me indicaram um mecânico de bicicletas ali perto. Sem dificuldade encontrei a oficina, que funcionava em uma casa distante 500 metros da estrada. O mecânico falou que levaria uma hora para consertar o estrago. Deixei a bicicleta na oficina e fui procurar a biblioteca da cidade, que era o local onde carimbavam o passaporte da Estrada Real. Como a cidade era pequena, tudo era perto e não precisei andar muito.

Quase no final de um novo trecho de subida, teve um momento em que tive que ir rapidamente para o acostamento, pois de frente vinha um caminhão em alta velocidade. Na pressa acabei batendo com o macaquinho numa canaleta da estrada e ele entortou e fez com que a corrente se soltasse e enroscasse nas catracas traseiras. Coloquei a bike de ponta cabeça ao lado da estrada e por quase uma hora tentei consertar o problema. Mas não consegui, e do jeito que travou a corrente eu não conseguia nem mesmo empurrar a bike, pois a roda travava. Com muito custo consegui tirar a roda e coloquei ela invertida, pois dessa forma não travava. Daí tive que empurrar a bicicleta pelo canto da estrada. Empurrei por cerca de um quilômetro de subida e felizmente cheguei em um trecho longo de descida. Subi na bike e embalava ela com o pé no asfalto. Depois era só seguir no embalo e com as mãos no freio. Em alguns trechos de subida e de reta, eu descia e empurrava. Foram dez quilômetros dessa forma, até que cheguei na cidade de Pouso Alto. Dei sorte de a bike ter quebrado perto de um longo trecho de descida.

Passaram por mim alguns carros com bikes no bagageiro ou no teto. Todos que passaram buzinaram, e em alguns carros eu via mãos e braços acenando freneticamente pelas janelas e até ouvia alguns gritos. Acredito que estes carros estavam indo para algum evento de ciclismo ali perto. No meio da tarde cheguei em um trevo e segui por uma estrada estreita e ruim que levava até a cidade de Itanhandu. Antes de chegar na cidade tinha uma longa descida e tive a infeliz ideia de pegar a câmera e descer filmando. Um carro passou muito perto de mim, me fez desequilibrar e fui parar no capinzal ao lado, quase caindo. Na gravação dá para ver a câmera chacoalhando toda e o capinzal se aproximando. Na entrada da cidade pedi informações para algumas pessoas, até que consegui chegar no centro e encontrei o hotel onde carimbavam o passaporte da Estrada Real. Fui atendido por uma jovem e bela moça, com a qual conversei um pouco sobre a viagem. Procurei ficar distante dela enquanto conversava, pois eu estava todo molhado de suor e o meu cheiro não devia ser dos melhores. Antes de sair aproveitei para encher a pança com água gelada de um bebedouro. Quase não deu vontade de sair do hotel, pois dentro o ar condicionado estava ligado em uma temperatura baixa. Lá fora não tinha ar condicionado e o sol estava a pino. Não tive muita dificuldade em encontrar a saída da cidade. E quase entrando na estrada, parei em uma panificadora e tomei uma garrafa de Guaranita. Esse refrigerante é viciante! E pena que só é vendido naquela região de divisa entre Minas Gerais e São Paulo.

A parte final até a cidade de Passa Quatro foi bem tranquila. Eu achava que estava longe da cidade e quando me dei conta já estava entrando nela. Essa seria a última cidade mineira onde eu iria pernoitar, pois no dia seguinte entraria no Estado de São Paulo. Quando fiz a viagem de bike pelo Caminho da Fé em 2011, dormi em uma cidade chamada Santa Rita do Passa Quatro, que fica em São Paulo. De início achei que estava na cidade onde aconteceram batalhas durante a Revolução de 1932. Mas depois me dei conta de que estava enganado, que o nome era parecido mas que a cidade que foi invadida e teve uma ponte explodida por tropas paulistas durante a Revolução, era a mineira Passa Quatro. Dessa vez eu estava na cidade certa.

Durante a Revolução de 1932, Passa Quatro foi invadida por tropas constitucionalistas paulistas. Uma das maiores atrações da cidade são seus casarios antigos, construções realizadas na cidade desde o final do século XIX até as primeiras décadas do século passado. Formam um conjunto arquitetônico valorizado pela comunidade e recentemente tombados por serem reconhecidos como patrimônio histórico, arquitetônico e cultural a ser preservado. A região de Passa Quatro possui mais de 300 anos de história e 100 anos como município. Apesar de não ser a cidade brasileira situada em altitude mais elevada, o município encontra-se entre as regiões mais altas do país. Fica na região de Passa Quatro o quinto mais alto pico brasileiro, a Pedra da Mina (2.798m), localizada na serra Fina e ponto culminante da Serra da Mantiqueira e do estado de São Paulo, com o qual o município faz divisa. A cidade vem se firmando nos últimos anos como polo de atração para o ecoturismo e o turismo rural. Na Revolução de 1932, atuou no hospital municipal da cidade, um jovem médico que seria futuro Presidente do Brasil. O nome dele, Juscelino Kubitschek.

Saí dar uma volta pela cidade, e como estava no centro pude ver novos casarões. Consegui encontrar o local para carimbar o passaporte da Estrada Real, que funcionava em uma pousada. De curiosidade perguntei o preço da hospedagem, que era quase o dobro do que paguei no hotel onde estava. Dei uma volta pela avenida longa por onde tinha entrado na cidade. Naquele horário tinham muitas pessoas fazendo caminhada na avenida. Me chamou atenção um cachorro preto de rua, que ficava igual louco correndo atrás de carros para cima e para baixo. Queria jantar comida ou pizza, mas não encontrei nenhum lugar para comer.  Fui em um supermercado perto do hotel e lá comprei algumas coisas para lanchar no quarto. Comprei também uma Guaranita de dois litros. Voltei ao hotel e lanchei no quarto. Depois liguei para casa, coloquei o diário de viagem em dia e vi o noticiário na TV. Resolvi dormir cedo, pois o dia seguinte seria longo. Como o caminho teria poucas subidas, eu planejava fazer uma longa quilometragem.

*Para ler o relato completo sobre esse dia de viagem, ou sobre toda a viagem pela Estrada Real, adquira o livro “Estrada Real Caminho Velho”, autor Vander Dissenha.

À venda a partir de 01/11/2016 

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Versão impressa: Clube de Autores

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Estrada Real – 7° Dia

Cruzília/Baependi/Caxambu

(Resumo)

Levantei 08h45min e desci para tomar café, que era servido somente até as 09h00min. Nesse dia o pedal seria mais curto, e com mais descidas e retas do que de subidas. Terminado o café voltei para a cama e descansei mais um pouco. Pouco antes das 10h00min levantei, recolhi minhas roupas que estavam todas secas, arrumei minhas coisas e saí. Me despedi do dono do hotel e fui pegar a bike na garagem. Dei uma olhada no guia e na lista de endereços para carimbar o passaporte da Estrada Real. Ali em Cruzília era na prefeitura que que carimbavam o passaporte. Saí pedalando pelo centro da cidade e não foi difícil encontrar a prefeitura.

Saindo da cidade comecei a pedalar por uma estrada de terra, mas com várias casas em volta. Ao passar por um dessas casas, um homem que estava no portão gritou para eu tomar cuidado, pois a estrada era perigosa. Só não entendi se era perigosa por causa de assaltos, ou se a estrada era ruim e isso causava perigo. Passei por um longo trecho cheio de pedras grandes espalhadas pela estrada e tive que tomar muito cuidado para não bater numa dessas pedras e cair. O sol foi embora e o dia ficou nublado, mas muito quente. Logo entrei numa região deserta, mas cheia de árvores. A paisagem era bonita e vez ou outra passava algum carro por mim. Logo enfrentei duas subidas fortes e deu para suar um pouco. Numa descida onde a estrada era cercada por árvores, vi uma revoada de papagaios. Eram muitos e ele voavam na minha frente, meio que indicando o caminho que eu deveria seguir. Foi uma experiência inesquecível essa de pedalar com os papagaios.

Saindo do cafezal segui em direção a um pasto, e cheguei numa encruzilhada onde ao lado tinha uma porteira. Fiquei em dúvida sobre para qual lado deveria ir. Resolvi continuar seguindo pela trilha em que estava. Pedalei alguns metros e vi pouco mais à frente na trilha, um pequeno rebanho de gado saindo do meio de algumas árvores. No meio do gado visualizei um grande e assustador touro. Dei meia volta rapidamente e segui para a porteira que tinha visto pouco antes. Atravessei a porteira e me sentindo seguro parei para dar uma olhada no guia. Antes de abrir o guia ouvi vozes e vi alguns homens trabalhando perto do local onde o gado estava, mas do outro lado da cerca. Fui até lá e vi que três homens consertavam a cerca, com a ajuda de um guincho acoplado em um trator. Pedi informação sobre o caminho para Baependi e me disseram para seguir reto pela trilha em que estava, que logo ela iria sair numa estrada. Agradeci a informação e segui pedalando, ainda assustado com o touro. Não andei muito e logo avistei o trevo da rodovia.

Pouco antes de chegar em Caxambu, teve um trecho da estrada que era toda cheio de pedras e de poças d’agua. A água vinha de minas próximas. No meio da tarde e com o sol tendo dado as caras novamente, cheguei na cidade de Caxambu. Passei pela periferia da cidade até chegar no centro. A cidade é simpática e mistura construções antigas, com outras mais modernas. Essas construções antigas não são tão antigas como muitas que vi nas cidades históricas. Na maioria são construções com menos de 100 anos de existência.

Caxambu concentra o maior complexo hidromineral do mundo, com 12 fontes de água. Fontes de água mineral existem em muitos lugares no mundo, mas fontes de onde saem água mineral gaseificada não é todo lugar que tem. Mas Caxambu tem, e tem muitas fontes desse tipo. Em razão dessas águas a região é famosa desde a época do Império, quando a Princesa Izabel esteve em Caxambu para tratar sua infertilidade nas águas milagrosas da cidade. O tratamento parece ter dado resultado, pois a princesa teve três filhos nos anos seguintes. Na primeira metade do século passado, Caxambu recebia turistas endinheirados que vinham relaxar e se curar no famoso balneário hidromineral. Em 1954 a seleção brasileira de futebol esteve em Caxambu, se preparando para a disputa da Copa do Mundo. Hoje em dia a cidade não é tão famosa como no passado, mas mesmo assim recebe muitos turistas.

A principal atração turística de Caxambu é o Parque das Águas. O parque possui uma extensa área e oferece atrações diversas. Ele conta com 12 fontes de águas minerais gasosas e medicinais, com propriedades diferentes umas das outras. O parque tem belos jardins, bosques e alamedas com grande beleza paisagística. No Parque das Águas existe um prédio antigo e conservado, que abriga um grande balneário de hidroterapia. O local oferece banhos de imersão em água mineral, piscina de hidroterapia, saunas a vapor e seca, duchas e banhos de vários tratamentos estéticos. O Parque também oferece piscinas de água mineral, lago e pedalinhos, pista de corrida, quadras esportivas e um teleférico que leva até o topo do Morro Caxambu, de onde se tem uma deslumbrante vista da cidade. Para um ciclista cansado como eu, uma visita ao Parque das Águas era obrigatória. E foi o que fiz, após ter feito um rápido lanche numa padaria.

O Parque das Águas ficava a menos de 500 metros do meu hotel e foi fácil chegar até lá. Para entrar é cobrado uma taxa de R$ 5,00. Na entrada descobri que as termas fecham as 17h00mim, e como eram 16h00mim fui direto até o prédio onde funcionam os vários tratamentos hidrotermais. Escolhi utilizar a piscina de hidroterapia. Paguei R$ 35,00 para ficar quarenta e cinco minutos na piscina, mas como estava para fechar me deixaram ficar uma hora. A piscina era dentro de uma enorme sala e tinha banheira de hidromassagem, cachoeiras, bancos com hidromassagem e outras coisas mais. A água era mineral e quente. Achei o lugar muito legal, e não consigo explicar direito como era o funcionamento. Sei que aproveitei ao máximo o tempo que fiquei na piscina e como minhas pernas estavam doloridas após dias pedalando, foi muito relaxante ficar na hidroterapia. Fiquei sozinho quase o tempo todo. Somente minutos antes de fechar é que apareceram duas moças e entraram na piscina.

Após sair da piscina, fui caminhar pelo parque. Muitas das fontes de água mineral são cobertas e tem nome. Em frente as fontes existem placas que informam suas propriedades e indicações medicinais. Provei a água de todas as fontes. Algumas eram boas, outras nem tanto. Teve uma que me deixou enjoado, pois o gosto era meio salgado e tinha cheiro de ovo podre. A água que mais gostei foi a da Fonte Dom Pedro II. Para pegar a água na fonte, você precisa descer por uma escada e em volta tudo é cheio de azulejos. Numa nas fontes conversei com duas senhoras e descobri que uma delas era paranaense como eu, e tinha vindo de Curitiba. Dentro do parque funciona uma pequena fábrica que envasa água mineral. Eu já tinha ouvido falar da Água Mineral Caxambu, mas nunca tinha bebido tal água. Ela é considerada gourmet, e por isso não se encontra facilmente para venda e o preço é um pouco alto. Gostei muito do Parque das Águas e fiquei andando por ele e tirando várias fotos até escurecer.

*Para ler o relato completo sobre esse dia de viagem, ou sobre toda a viagem pela Estrada Real, adquira o livro “Estrada Real Caminho Velho”, autor Vander Dissenha.

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